Thursday, April 12, 2007

Uma pequena miss sunshine incomoda muita gente

Finalmente, depois de uns 6 meses enrolando e evitando, vi ontem a tal Miss Sunshine (*1/2). Seria impossível a estas alturas não entrar no cinema cheio das piores expectativas - e por isso mesmo, seria igualmente impossível não sair de lá levemente decepcionado com estas piores expectativas. Ou seja: ao fim e ao cabo, não acho o filme a terceira vindo do anticristo.

Acho sim o filme bastante desinteressante em toda a sua primeira metade, preso entre seu esquematismo de filme independente, sua manipulação emocional descontrolada (onde o uso da trilha sonora é especialmente incômodo) e alguns personagens canhestros (em especial os do adolescente e o de Greg Kinnear - embora talvez o que mais me desagrade seja mesmo o de Alan Arkin, que assim como o Woody Allen no Scoop parece perdido num filme todo dele, numa atuação dó de peito chamativa - do tipo que ganha mesmo Oscar - mas completamente desarticulado dentro do filme). No entanto, também há coisas ali que começam a me indicar que o filme pode atingir algum interesse, em especial a personagem bastante curiosa da mãe (como Cléber notou, que trabalha num registro distinto dos outros), a menina Breslin que é mais do que apenas "fofinha", e realmente é boa atriz, e acima de tudo Steve Carell que, mesmo com um personagem com tintas tão canhestras quanto os de Arkin ou Kinnear, mostra o que um ator consciente pode fazer "apesar" do roteiro, "apesar" do diretor. Seu Frank é sempre bem mais do que apenas um sintoma, e isso se deve quase exclusivamente ao ator, a seus tempos de falas, a seus olhares, a seu gestual. Uma atuação, essa sim, impressionante.

Aí, depois de uma hora de desinteresse (embora eu mais me entediasse do que me revoltasse com o que estava na tela), a chegada ao concurso de misses definitivamente me acordou. Acho que a sequência tem consideráveis acertos de filmagem, e quando a família supera as individualidades banais e se encontra como coletivo, e se descobre incapaz de encontrar no seu objetivo comum alguma realização, o filme obtém vários níveis de interesse a meu ver. Acho que há nesta cena elementos que são bem mais complicadores e complexos do que se queira desfazer o filme como um approach simplesmente patológico frente ao mundo.

Ontem o filme (por minha culpa, assumo) acabou dominando a parte final do debate no CineSESC sobre representações da família (depois de alguns pontos altos, como a fala do Francis sobre Caché - que representou, preciso dizer, a primeira vez que ouvi/li alguém dizer qualquer coisa sobre o filme que me fizesse minimamente querer revê-lo dentro do desagrado que tive com o filme na única visão dele). Ali, queria ter dito duas coisas que não consegui: a primeira, quando se falava da patologia do desfile e o Rodrigo citou o apresentador e a realizadora do desfile como provas de que havia patologização geral da cena, era citar a Miss Califórnia - personagem que teria tudo para "replicar" o que se esperaria de patológico, mas que não só dá um outro peso na sua única fala, como na sua reação à dança da família freak, algo que chamou minha atenção. Segundo, quando joguei Carpenter e Romero na roda, acho que ficou a falsa impressão que eu não vejo diferenças entre o cinema destes e o de Farris/Dayton. O que está longe de ser o que eu quis dizer: não quis comparar os cinemas, e sim discutir os nossos argumentos na crítica (e me incluo totalmente nisso) para desautorizar certos expedientes em alguns cineastas, quando podemos elogiar exatamente os mesmos expedientes em outros. De tudo que ouvi ontem, do Rodrigo, do Francis, do Sérgio, confesso que ainda não estou certo de que, nos argumentos, conseguimos sempre ir além de uma simples expressão do nosso gosto por um ou outro filme ao apresentarmos as "provas" sobre os erros. Sobre isso, confesso, continuo em dúvida.

ps: ah, e Rodrigo e Gilberto (embora ache que Gilbertão não lê blogs): 24 horas depois, continuo gostando do final do filme! hehe

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