Thursday, April 12, 2007

O curioso fenômeno da revisão

Voltar a filmes é muito mais do que ver de novo o mesmo filme. Vemos sempre filmes diferentes - e isso é bem mais do que uma simples platitude. Verdade que nem sempre vivo experiências tão radicais quanto com o Vou para Casa do Manoel de Oliveira (que da primeira vez, amei; da segunda vez, admirei com distância; da terceira, fiquei frio frente ao filme; da quarta, reencontrei um sentimento da primeira olhada), mas sempre acho que os filmes que vale rever são aqueles que nos mostram facetas distintas a cada olhada - e não aqueles em que revemos o já familiar.

Ontem, revi Eu Me Lembro (**), e tive uma curiosa contra-experiência da primeira vez. O que me encantou na primeira visão (toda a parte da infância, no fluxo incerto da memória e da interrelação entre experiências), desta vez me pareceu travado, algumas vezes endurecido - tanto na encenação quanto na montagem, principalmente. Tudo que eu admiro como conceito continuava ali, mas a experiência sensorial mudou para pior. Curiosamente, aconteceu o contrário com a parte "adulta", que na primeira visão me pareceu um epílogo mal resolvido, uma articulação entre micro e macro História que pouco adicionava ao filme. Pois desta vez, mesmo reconhecendo algumas das mesmas "dificuldades" na parte de construção, me pareceu que o filme não poderia existir sem aquele trecho, sem a força realmente pungente do desencanto pessoal que se une ao desencanto de país. Conhecendo um pouco o Navarro por escritos dele recentes, me parece que aquele talvez seja o cerne do filme para ele, esta passagem para um mundo adulto junto com um país que desencanta. Me emocionou, de verdade.

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