Thursday, March 23, 2006

Dica de leitura do dia (ops, tarde demais)

Tem uma entrevista fantástica na Carta Capital desta semana... (xi, o cara fala mal do Globo num post, elogia a Carta Capital no seguinte... deve ser um petistinha de merda)

ahá! Mas a entrevista é de um deputado do PFL!

Sério mesmo, a entrevista do Roberto Brant é excepcional. Pena que não tá disponível online, porque a revista sai das bancas amanhã. Vale pedir emprestado pro coleguinha do lado...

Só pra dar os dois lados da versão, colemos algo do Globo agora (tenho certeza que as organizações Globo não vão reclamar de eu publicar aqui material deles), porque o texto do Veríssimo de hoje é a mais brilhante definição da política brasileira escrita em muito tempo (e, esta é a vida de um blogueiro de verdade: se vc não tem nada de inteligente ou novo pra escrever, copie de quem tem):


Times
Luiz Fernando Veríssimo

Foi neste verão que acabou. Decidiram que o futebol na praia seria entre esquerda e direita. Mota, o mais indiscutivelmente PT do grupo, escolheria um lado, Renê, reacionário assumido, o outro. No primeiro escolhido do Mota, já deu problema. O Martins apontou para o próprio peito e disse:
— Eu?
— É — confirmou o Mota. — Você não é de esquerda?
— Quié isso. Nunca fui.
— Você não era PT?
— Simpatizante. Mas isso faz tempo.
O Renê também teve dificuldades em escolher seu time. O Souza, por exemplo, reagiu:
— E desde quando eu jogo no teu time, Renê?
— Vai dizer, agora, que é de esquerda?
— Social democrata. Social democrata.
— Ó Souza! Eu te conheço do tempo da faculdade.
— Pois então? Se você me conhece sabe qual é a minha posição.
— Sei. Quero você pra jogar na direita.
— No seu time eu não jogo.
Ficou um clima ruim, e o Renê decidiu escolher outro. Apontou para o Melchiades, que também se rebelou:
— Essa não, Renê!
— Que foi?
— Eu de direita?
— E não é? Eu ainda me lembro de você...
Mas o Melchiades estava com as mãos espalmadas na frente do peito, pedindo para ele parar.
— Não me vem com passado, não me vem com passado.
— Você pode jogar na meia-esquerda.
— No time da direita eu não jogo.
René perdeu a paciência.
— Ninguém quer assumir que é de direita?
— Eu sou — disse o Alemão, que se chamava Bruno Almiro.
René suspirou. Sabia que o Alemão tinha até retrato do Hitler em casa. Mas o Alemão era muito ruim de bola. O Alemão, apesar de baixinho, só sabia dar pau.
— Desisto — disse o Renê.
O Mota aceitou o Souza no seu time, apesar de suas restrições históricas à social democracia. Não convenceu o Melchiades, que preferiu ficar fora do jogo. E custou a convencer o Jorginho a jogar no seu time.
— Pô, Jorginho. Você fez campanha pro Lula!
Jorginho finalmente aceitou, mas com uma condição:
— Sem compromisso.
Daí para diante foi impossível formar os dois times. Acabaram voltando ao velho esquema casados x solteiros, depois que os casados aceitaram que o gordo Paixão fosse para a zaga dos solteiros, já que o que havia entre ele e a Vanusa não podia ser chamado, exatamente, de casamento.

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